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19 novembro 2016

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Sinopse


Descobri como meu prédio é quando o sol nasce
É diferente dos outros nasceres em outros lugares
Tem um quê de rotina e nostalgia
(Apesar de que isso todos têm) 
É uma espécie de reflexão solitária 
Mesmo na melhor das companhias
Acompanha aquele suspiro
De quem um dia se viu dormindo e perdendo tudo

Na praça o sol também nasce
Ilumina o chão que abrigava minha silhueta
Nossas sombras cobriam toda uma extensão 
Misturadas com a noite
E agora somem.
Mas noites depois, dias depois
Os beijos e as palavras trocados no escuro sequer são suspiros
Aqui se ergue uma flor
Ali se deitou o pavimento

E a memória, é ligada a lugares?
E a emoção? 
Fiquei triste pela praça pavimentada
Mas nunca me ocorreu se era mais saudade do gramado ou da memória
E na memória asfaltada sei que a dor também padece
E volto ao suspiro reflexivo
No telhado do meu prédio

Ao longe dá pra ver o rio
A luz do sol logo o toca
Revela os segredos de dias anteriores
Dói
O fluxo afinal nos leva
E se for pensar no que nos resta...

O mais engraçado talvez seja
A indiferença com a qual amanhece
Aqui no meu prédio 
Nessa cidade
Nesse mundo 
É só mais um dia

Rio pra não chorar
Seguimos

05 setembro 2016

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Suspensa

E quando a única lembrança que resta
Se resume a um suspiro?

O passado tem dessas
De suavizar o tom
Da raiva, da angústia,  do desamor
E resta só um suspiro

O problema é suspirar no presente
Ausente até no reflexo do espelho

O presente não era mais colorido e excitante? 
Ou só a memória que tenho dele?
Afinal, não quero me contentar com reflexos do passado

(E este é cada vez mais extenso
Em memórias e suspiros)

E o desapego parece uma constante
De memórias e expectativas 

Classificar lembranças por sentimentos 
Porque pessoas viraram suspiros...

E finalmente me falta o ar.

09 julho 2016

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Bom Dia

Não quero ser meia taça vazia
que procura da laranja a metade

Há tempos desacreditei em príncipes
(a começar pela monarquia)
nessa expectativa sombria
do feliz pela eternidade
-mentira!
A própria astrologia
diz que sou propensa à intensidade
Não busco a tampa da panela
Tampouco sei de verdade
Se entre o mapa astral e a ideologia
Sobra um espaço de identidade

E se me vem lágrimas de poesia
Em versos de realidade
Continuo taça vazia
Ou encho a outra metade?

Ironia...
O maior vício de todos
Afinal ser a companhia

18 maio 2016

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"O que as horas guardam no espaço do contra tempo?"

Não tenho a menor vontade de dormir. O amanhã sobrevém na minha mente como uma eterna ameaça de cobranças e incertezas, mas estou protegida. No meu refúgio, nem que seja ilusório (e talvez pensar nisso quebre a ilusão que o faz ser) o silêncio e a única fonte de luz que eu controlo no mover de um botão parecem congelar o momento num segundo estático que desfruto, deitada na minha cama depois de tanto tempo. Mas a Academia me tirou o segundo a ser desfrutado, e o Golpe, o próprio desfrute.
Hoje sequer tiro prazer do trago de um cigarro, tamanha minha apatia interna (momentânea, o tempo do desfrute do segundo que me foi roubado). Conto a soma de minutos que terei se perder a consciencia agora até os compromissos que terei amanhã de manhã. Sei que o sol iluminará meu quarto e me tirará da cama no máximo as dez, mas não sei o que ocorre que a consciência sempre toma posse de mim antes, entre oito e nove. Conto com esse tempo. Um prazer que me permito é me utilizar dessa singularidade para aposentar o despertador. Por algum motivo o mundo real me chama em silêncio, como o tic tac mudo de um tempo maior.
Sei que mesmo sem meu desfrute o tempo passa. Talvez principalmente sem ele. Só me dou conta quando não há mais tempo.
Ganhei uma agenda no começo do ano. As páginas vazias do passado me assustam, e do futuro me intrigam. No fim, cerro o enigma entre duas capas de couro, no fundo da minha estante... Sei mais sobre meu futuro com o livro de tarôt ao lado.
Qual o tempo usado com uma poesia? É perca ou é ganho?
Que [o] seja. Se eu dormir agora tenho cinco ou seis horas (ganhas, ou perdidas?).
Pelo menos hoje desfrutei o segundo.

22 março 2016

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Álbum


Será que certos objetos atraem memórias?
Ou nós que precisamos de lugar pra colocá-las?
Me parece que as palavras não fluem sozinhas para o papel
E ainda assim, memórias de travesseiro parecem espontâneas...

As vezes trombo com memórias
Um cheiro, uma música, uma noite, um lugar

Já trombei até com memórias físicas!
(São como fantasmas de carne e osso
Que vagam meio sem sentido
Tão familiares como um sonho distante)

Qual valor se pode dar a uma memória?
Perder-se na nostalgia pode ser bom
- Em doses homeopáticas -
Mas ninguém parece saber a dose certa

Mas por enquanto quero mais deixar memórias
(Vou esconder meu cheiro numa roupa,
Um cabelo no travesseiro,
Um reflexo no espelho,
E alguma mania nas mãos)

Porque no final das contas
Deve ser muito solitário não conviver com suas memórias.